quarta-feira, 7 de julho de 2010

O melhor das semifinais: a raça e a classe

E chegamos ao último ato da Copa 2010! Depois de muitas supresas, decepções e campanhas que nos fizeram mudar de palpite aos 45 do segundo tempo, os dois finalistas são, afinal, duas seleções que constavam desde o princípio na lista de favoritas das favoritas ao título - e justamente as duas que ainda não possuíam um caneco nas suas estantes.

Espanha e Holanda terão a oportunidade de, finalmente, às 19:30 de domingo (15:30 no horário de Brasília), mostrar porque são sempre contadas como gigantes do futebol mundial, apesar da falta de Copas do Mundo nos currículos. É a primeira final na história para a Espanha, e a primeira em 32 anos para a Holanda, que espera fazer justiça pelas laranjas mecânicas do passado.

A campanha pré-copa da Espanha foi provavelmente a mais empolgante dentre todas as seleções, com um sonoro 6:0 logo antes da Copa sobre a Hungria. Sneijder, campeão italiano e europeu com a Inter de Milão, e Robben, campeão alemão e também finalista da Champions League pelo Bayern, prometiam. E de certa forma cumpriram. Se a campanha não foi tão brilhante quanto se esperava, com o futebol vistoso que deu fama à seleção holandesa e chamou a atenção na Euro de 2008, o time foi sempre muito consistente. Souberam jogar contra o Brasil, que, vai, não era lá essa Brastemp toda, mas ainda assim tinha o peso da amarelinha/azulzinha a seu favor, e um primeiro tempo fantástico. Contaram com erros clamorosos do Brasil, A.K.A. Felipe-Mellonagens, mas ainda assim, souberam usar tudo isso a seu favor, e explorar o fraco emocional brasileiro. Robben destruiu nossa defesa só com a experiência: caindo e rolando no chão como minhoca na areia quente, ele estressou nossos jogadores, forçou cartões amarelos e acabou acordando o Felipe Mello dentro do monstro - ops! O monstro dentro do Felipe Mello.

Contra o Uruguai, como francos favoritos, a Holanda encontrou muita dificuldade de penetrar na forte defesa da Celeste. Encontrar espaços entre os dispostos e batalhadores jogadores uruguaios não é fácil, e mais difícil ainda é fazer com que eles se rendam. Talvez sem os desfalques o Uruguai poderia ter sido mais perigoso, mas mesmo assim, e com Forlán jogando no sacrifício, os nossos queridos vizinhos não desistiram nem por um segundo. Os holandeses, com mais qualidade, e contando com um Sneijder inspirado, mataram o jogo com dois em 4 minutos, mas tiveram que defender as suas vidas nos últimos minutos do jogo, o que fez desta semifinal uma das melhores partidas da Copa. Palmas para os uruguaios, que pegaram suas chaves fáceis e fizeram com elas o que muitas seleções mais poderosas não conseguiram: passaram por cima. Com futebol leal e determinado, na base da raça. Caíram de pé.

Pausa para um elogio: Deixo registrado aqui, desde já, que independentemente do que aconteça na final, pra mim, o homem dessa copa foi Diego Forlán. Chegou badalado pelos seus gols na final da Liga da Europa, jogando por uma seleção da qual pouco se esperava e com companheiros argumentavelmente mais fracos do que muitos outros craques da Copa; bateu no escudo e falou 'Deixa comigo'. É craque? Então mostra. E ele mostrou. Não se escondeu em nenhum momento, foi decisivo em muitos deles e teve uma ótima participação. O Uruguai todo está de parabéns, mas o Forlán com certeza se destacou. Palmas pra ele.

Pausa para uma crítica: O que é Van Bommel? Distribuindo bordoada a torto e a direito, chegando só na cavalisse. Era pra ter sido expulso na partida de ontem, e só tomou um cartão amarelo porque achou que o juiz tinha apitado o final do jogo quando na verdade era uma falta, e deu um bico na bola. Com a bola no pé que é bom mostrou pouco. Sinceramente.

Chegamos então naquela que pra muitos era a final antecipada da Copa! De um lado, a franca favorita deste o começo Furia Roja; do outro, aquela que chegou de fininho e de repente se mostrou o bicho-papão da Copa, a Alemanha. Com uma seleção com média de idade baixíssima, que combinou a velocidade e a sapecagem dos garotos com a experiência dos já manjados Klose, Podolski e Schweinsteiger, a Alemanha foi, certamente, a seleção que teve a campanha mais impressionante.

Muitas pessoas ficaram decepcionadas com a Espanha, esperavam ver aquela que ganhou a Euro de 2008 como um caminhão doido sem freio. Tá bem, é verdade que até aqui eles tinham sido mais irritantes do que qualquer coisa, e perderam uma partida, mas ainda assim os espanhóis avançaram até as semifinais porque tem em mãos o que é provavelmente o melhor time da copa. Do camisa 1 ao 23 (glorioso Pepe Reina!), a Espanha é feita basicamente de talento - talento jovem associado ao talento experiente. Uma seleção que tem entrosamento de muito tempo, acostumada a jogar junta pela Espanha, pelos clubes (seis jogadores do Barcelona no time que começou a partida hoje, sete se contarmos o Villa) e uns contra os outros também nos campeonatos espanhóis. De todos os jogadores da Espanha, três atuam fora do país (Torres e Reina no Liverpool e Fábregas no Arsenal).

Vamos dar uma olhada em algumas estatísticas espanholas nessa copa, então:

- A Espanha teve maior posse de bola do que seus adversários em todos os jogos da Copa.
- É o time com maior número de chutes: 103. Em chutes no gol, só perde pra Argentina e Holanda (ambos com 2 e 1 chute a mais, respectivamente).
- É o time que mais tentou passes na Copa, 4206, com 81% de acerto (!!), mais do que qualquer outra seleção.
- O primeiro, o segundo, o terceiro, o quinto, o sétimo e o oitavo jogadores com maior número de passes na Copa são espanhóis, todos com estimativa de acerto entre 81 e 88%.
- Casillas tem apenas 12 defesas na Copa INTEIRA, que é menos do que goleiros que saíram na primeira fase da Copa.
- Tem apenas 2 gols sofridos na Copa.
- O jogador com maior número de chutes no gol na Copa é o David Villa, não a toa é o artilheiro.
- A Espanha só tem menos cartões amarelos do que a Coréia do Norte, e é a 13º em faltas cometidas - mas a primeira em faltas sofridas.


Decepcionante, não?

A Espanha pode não ter sido o poço de brilhantismo que todos estavam esperando, mas foi, sem sombra de dúvidas, um poço de competência. Fizeram valer a sua proposta de jogo em todos os confrontos (exceto no primeiro, contra a Suiça, quando deram um mole imperdoável), e hoje, contra a Alemanha, mostraram finalmente, FINALMENTE, porque chegaram nessa Copa como campeã de todos os bolões.

A Alemanha, que aposta nos contra-ataques rápidos e mortais, na velocidade dos seus jogadores, numa disciplina tática que beirou a perfeição contra Inglaterra e Argentina e levou a duas goleadas históricas, e num aproveitamento monstro dos erros adversários, enfrentou uma seleção que praticamente não errou. A Espanha simplesmente não deu brechas para que os alemães conseguissem colocar seu jogo em prática, anulando toda e qualquer jogada. Levou mais de cinco minutos para que alemães conseguissem tocar na bola, e durante todo o jogo a cena se repetiu: espanhóis trocando passes com perfeição, testando a paciência dos alemães, que em vão bloqueavam os ataques na entrada da área, para logo depois perder a posse da bola de novo.

Se Friederich, um dos destaques dessa Copa, conseguiu anular o Villa, Busquets simplesmente não deixou Ozil ver a cor da bola. Quase nada passou pelo volante do Barcelona, que teve ainda a ajuda de um Xabi Alonso inspirado, depois de algumas partidas bem abaixo do seu potencial. Ele e Sérgio Ramos (companheiros de Madrid) estavam em sintonia, e o Xabi acertou lançamentos impressionantes, sempre buscando o lateral. Xavi e Iniesta, que não vinham desfrutando dos dias mais felizes das suas vidas, infernizaram a defesa alemã. Xavi foi inclusive o Man of the Match, teve o impressionante aproveitando de 86%, na partida com o maior número de passes trocados na Copa até aqui. Schweinsteiger, que pra mim foi um dos melhores jogadores nessa Copa, passou por momentos de zé ninguém contra a Espanha.

Não foi uma surpresa, a vitória da Espanha. Pelo menos não pra mim. De favoritos, eles foram à azarões contra a Alemanha, mas eu sempre confiei mais na experiência espanhola e no taco dos seus craques. Não que uma vitória alemã fosse algo inesperado, depois de tudo, mas é inegável que a Espanha é um time muito mais equilibrado e sensato do que Inglaterra e Argentina, com um padrão de jogo muito mais consistente e muito bem treinado. Seria questão de saber quem erraria menos, e a Espanha conseguiu ser quase perfeita. A posse de bola espanhola chegou a 68% durante a partida, e só se equilibrou nos minutos finais, quando, talvez nervosos com o fim da partida, os furiosos começaram a dar chutão pra frente e devolver a bola pro adversário - coisa que eles se recusaram a fazer durante todo o jogo.

Difícil ver um time jogar com a classe da Espanha, e o que alguns classificam como "futebol chato", pra mim é a grande graça do jogo. Uma seleção colocar a outra no bolso como a Espanha fez, especialmente em se tratando da Alemanha, é pra poucos. Por isso, meu respeito.

Os alemães fizeram muito bem nesta Copa e mostraram que vão chegar com o pé na porta em 2014, com uma geração extremamente promissora. Perderam para jogadores mais maduros, consagrados, e que merecem uma Copa pelo conjunto da obra.

Pausa para um elogio: Piqué, o Lúcio espanhol. É o terceiro jogador da Espanha com maior aproveitamento nos passes, e também o que tem o terceiro maior número de tentativas. Só perde em lançamentos para o Xabi Alonso, e tem o mesmo número de finalizações na Copa que o glorioso Lúcio. Com o plus de ser um irmão perdido do Henri Castelli, e não do chupacabra. Oh-lalá.

Pausa para uma crítica: Deu de usar terninho combinandinho com o assistente, né Joachim? Parou a palhaçada.

E já que é pra celebrar a Espanha, vamos nos lembrar também que desde o começo eles eram os meus preferidos no quesito chuchubeleza da Copa! Então viva mais um jogo com esses bons jogadores e jogadores bons dando o ar de sua graça nas nossas humildes TVs!








Já sabem quem é que vai levar seus votos de chuchu da Copa, migs? Eu não tenho dúvidas.

1 comentários:

CAPRITI, Psilla. disse...

Sem dúvida nenhuma a Espanha, desde o início, figurava como favorita. Depois de alguns escorregões, que deixou mostrar a bunda (e por mim tudo bem, contanto que seja do Piqué, ou, no máximo, do Xabi Alonso, mas vindo o Fernando Torres a gente não deixa de olhar! Dá=lhe Camila Nogueira!)... fomos presenteados com uma semi final digna de Copa do Mundo, apesar de termos uma Alemanha meio contrariada! Bela trocação, potentes contra-ataques (principalmente o espanhol) e um Puyol voador (imagem do capeta, eu sei!). Resultado? Alemães,se contentem com um 3° OUUUUU 4° Lugar (meu querido Forlán vai com tudo!) E um "quase" acidente de carro - leia-se: esses telefones+TVs são viciantes e altamente perigosos!

8 de julho de 2010 às 15:49

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