O dia 16 de setembro marcou a largada para a 56ª edição do torneio mais glamuroso e turbinado do mundo do futebol: a UEFA Champions League. Foi apenas a primeira rodada da fase de grupos, que em geral não costuma reservar grandes emoções para os torcedores, admiradores e simpatizantes. Mas a temporada não engrena enquanto o hino da Champions League não estiver sendo ouvido nos gramados, até dos estádios mais sombrios e undergrounds (porque faz parte), da Europa.
Enquanto esperamos pelos confrontos de mata-mata, onde os confrontos mais aguardados do ano acontecem, o Futebol&Mulher, é claro, vai analisando as batalhas grupais por uma vaga na próxima fase do torneio, que em 2010 terá sua final em um dos grandes templos sagrados do futebol, o estádio de Wembley, na Inglaterra.
Grupo AA surpresa dos primeiros confrontos do grupo A ficou por conta do empate em casa entre a atual campeã Internazionale e o modesto campeão holandês Twente. Em um grupo considerado um dos mais difíceis da primeira fase, com Tottenham e Werder Bremen completando o quadro, um empate em casa contra aquele que é teoricamente o elo mais fraco do grupo foi um péssimo resultado para os defensores do título. Natural que a Inter enfrente alguns problemas nesse início de temporada por conta da troca de técnicos: saiu o português José Mourinho, chegou o espanhol Rafael Benítez. Todo início de trabalho tende a ser no mínimo ligeiramente atribulado, enquanto técnico e jogadores buscam entrar em um acordo quanto à melhor maneira de encaixar. O que ainda não muda o fato de que a Inter teve um resultado decepcionante, que se soma a um começo não muito empolgante também no campeonato italiano. Para os mais supersticiosos, a Inter também não começou empolgando no ano passado, mas o empate, também no San Siro, foi contra o todo poderoso e então campeão Barcelona. Fator atenuante, não?
No outro jogo do grupo, os londrinos Spurs, estreantes na fase de grupo da Champions, começaram em ritmo alucinante contra os alemães em Bremen, com dois gols em 18 minutos e atuações excitantes de alguns jogadores, em especial do recém-chegado Rafael Van der Vaart, chutado do Real Madrid pelas novas contratações. Mas o Tottenham não conseguiu manter o ritmo até o final e viu sua empolgante vitória transformar-se naquele clássico empate com sabor de vitória, mantendo o grupo A absolutamente even.
Palpite: A Inter vai, obviamente, avançar de fase, nem que seja com mais sofrimento do que o estritamente necessário. Eu gosto do trabalho do Rafa Benítez e acho que ele tem condições de manter o espírito vencedor deixado pelo Mourinho. É um técnico menos amigo da garotada e mais pure business, o que não costuma fazer sucesso logo de imediato entre os atletas, especialmente quando seu antecessor era idolatrado por todos e deixou uma bela herança em forma de troféus. Mas com o tempo ele irá provar sua capacidade através do trabalho, não muito diferente do que aconteceu no Liverpool. Difícil pensar que a sensacional conquista dos Reds na primeira temporada de Rafael Benítez na Inglaterra irá se repetir, mas o elenco da Internzionale é, discutivelmente, melhor do que aquele do Liverpool campeão em 2005, além de basicamente o mesmo das temporadas passadas. Dá pra supor que, pelo menos em tese, o Rafa terá menos trabalho na Itália do que teve na Inglaterra. Dou meu voto de confiança.
O segundo classificado será, na minha singela opinião, o Tottenham. Apesar do começo fraco no campeonato inglês, os Spurs são um time extremamente competente e bem arrumado, bem encaixado, e já provou o que pode fazer. Travou uma batalha contra o multimilionário City na temporada passada pela 4ª vaga na Champions e venceu. Conta com jogadores habilidosos como Gareth Bale, em ótima fase, e Giovani dos Santos, garoto prodígio do México que ainda não convenceu na Inglaterra mas deu muito trabalho às defesas adversárias na Copa do Mundo. O folclórico Peter Crouch vem fazendo a sua parte e a chegada de Van der Vaart e Sandro, ex-Inter, dão ainda mais qualidade (e credibilidade) ao time bem treinado por Harry Redknapp (vulgo tio do Lampard). Defoe fará falta, mas ainda acho que os Spurs tem total condição de superar o Werder Bremen, que perdeu seu menino de ouro, Özil, na briga pela segunda posição do grupo.
Grupo BConfrontos não muito empolgantes marcaram os primeiros confrontos do Grupo B, entre times que amargam péssimos inícios de temporada nos seus respectivos campeonatos nacionais.
Benfica e Hapoel Tel Aviv se enfrentaram no Estádio da Luz, em Lisboa. Apesar da tranquila vitória por 2x0, o futebol pouco convincente que se repete rodada após rodada no campeonato português fizeram com que a torcida vaiasse o time. O Benfica perdeu suas duas maiores jóias nessa temporada, e grandes responsáveis pelo bom futebol da temporada 2009-2010: Angel Di María, que se transferiu para o Real Madrid, e Ramires, ex-Cruzeiro, que fez as malas rumo ao Chelsea. Sem grandes contratações, os benfiquistas ficaram decepcionados por ver a oportunidade de fazer uma boa campanha na Champions League, aos moldes do rival Porto, que foi campeão em 2004, ir por água abaixo.
Mas talvez o outro jogo tenha servido de consolo, pelo menos momentâneo, para os gajos da Águia de Lisboa. O Schalke 04, para não perder o ritmo alucinante com que vem sendo derrotado jogo após jogo no segundo demestre de 2010, perdeu mais uma para o Lyon, em Lyon. O magro 1x0, gol do queridinho do Dunga Michel Bastos, poderia até ter sido melhor. Não que o Lyon tenha feito uma partida brilhante, mas foi superior aos rivais durante quase toda a partida.
Palpite: Lyon e Benfica devem se classificar para a próxima fase; o Lyon com mais tranquilidade, o Benfica brigando um pouco com o Schalke. Eu até poderia apostar no Schalke, mas o começo dos alemães está sendo tão ruim que eu estou completamente desiludida. Em vez disso, sigo minha preferência particular na hora da aposta, vou de Benfica.
Grupo CO United, em meio à crise particular de Wayne Rooney, viu os escoceses dos Rangers arrancarem um amargo empate em pleno Old Trafford. Um chato 0x0 que sequer dá muito o que falar, pelo menos em termos de futebol. Se o jogo em si foi pouco memorável – o United com modificações que mataram seu jogo normalmente fluído e os Rangers com uma defesa que mais parecia um muro plantado no seu lado do campo – a terrível imagem da lesão do equatoriano Antônio Valencia correu o mundo. O jogador ficará afastado dos gramados por pelo menos seis meses por conta da fratura no tornozelo. O empate sem gols é ainda mais frustrante para Sir Alex e sua turma porque os Rangers foram o time que mais sofreu gols na última edição da Champions League. O único ponto positivo da partida foi o retorno do capitão Rio Ferdinand, afastado desde maio dos gramados.
Já entre o Bursaspor, da Turquia, e o Valencia, o que não faltou foi gol. Mesmo depois das consideráveis perdas de alguns dos seus jogadores mais importantes, como sua dupla dinâmica de Davids, Silva e Villa, e os zagueiros Alexis Ruano e Carlos Marchena, o Valencia vem pisando fundo, pelo menos neste comecinho de temporada. Lidera a liga espanhola ao lado do Atlético de Madrid e fez nada mais, nada menos do que 4 gols jogando na casa do adversário na rodada de abertura do Grupo C da Champions League.
Palpite: United e Valencia avançam. Simples assim.
Grupo DA vitória do patinho-mais-feio do Grupo D, Copenhagen, sobre os russos do Rubin Kazan (1x0 na Dinamarca) não valeu mais do que uma menção honrosa nos noticiários esportivos depois do espetáculo dado por Messi e seus amigos na goleada de 5x1 do Barcelona sobre os gregos do Panathinaikos. Não foi apenas a forma física e prática do abismo gritante de qualidade entre aquele que é considerado (com razão) o melhor time do mundo e um adversário infinitamente inferior. Foi um show. E um todo especial por parte do argentino Lionel Messi, que fez de tudo e mais um pouco. Com dois gols do argentino (que ainda perdeu um pênalti), um de David Villa, um de Pedrito e um de Daniel Alves, fechando a goleada já nos acréscimos, os catalães enviaram uma mensagem muito clara para todos os outros postulantes ao título: só por cima dos nossos cadáveres.
Palpite: Precisa mencionar o Barcelona? Não, né? Então tá. O que já era covardia sofreu um agravante com a chegada de David Villa. Só para facilitar a vida dos catalães um pouco mais, ainda caíram em um grupo entediantemente chato. Pelo menos nos dará a possibilidade de ver Messi, Xavi, Villa e Iniesta em ritmo de treino. A segunda vaga, por outro lado, é difícil de prever. Mas eu vou de Rubin Kazan, apesar da derrota de estreia.
Grupo ENada além do esperado para os gloriosos integrantes do Grupo E.
Basel e Cluj fizeram o que deve ter sido o jogo menos assistido da primeira rodada da Champions League. Certamente o mais desinteressante. O resultado final foi uma vitória por 2x1 dos romenos, e só.
Já no outro e muito mais interessante duelo entre o finalista de 2009/2010, Bayern de Munique, e a Roma, os alemães demoraram, mas acabaram levando com justiça pelo tranquilo placar de 2x0, jogando na Allianz Arena. O primeiro gol, uma obra prima da revelação da Copa do Mundo, Thomas Müller; o segundo foi marcado pelo artilheiro que renasceu no mundial, Miroslav Klose. Depois de uma temporada fraca, cheia de desconfiança e ter visto sua convocação para a Copa contestada pela torcida alemã, Klose calou os cornetas no Mundial e voltou com tudo para mais uma temporada.
Palpite: Bayern e Roma são, obviamente, os grandes favoritos. Os alemães, aliás, candidatos a mais do que apenas avançar de fase. E os italianos, apesar de uma vida que começa tensa em 2010/2011, devem conseguir superar os outros dois concorrentes, mesmo que com algumas emoções aqui e ali.
Grupo FOs campeões franceses, Marseille, começaram mal a Champions League com uma derrota em casa para o Spartak Moscow (gol contra do jogador que leva o prêmio pelo nome mais original da competição: Azpilicueta). O Marseille bem que tentou, e o Spartak teve de se segurar no segundo tempo, mas as finalizações incompetentes e uma boa atuação do goleiro russo garantiram o triunfo no retorno do Spartak à competição após quatro anos de ausência. Destaque para as participações de Alex, ex-Internacional, e Ibson, ex-Flamengo.
A molezinha ficou por conta do jogo sonolento em que o Chelsea, cheio de reservas, venceu o estreante Zilina da Eslováquia por 4x0, gols de Anelka (duas vezes, e aproveitando para dar uma cutucada na federação francesa), Essien e Sturridge. Foi fácil demais. Mas pelo menos John Terry estava lá pra distrair do tédio. Sempre bem vindo.
Palpites: Mais dia, menos dia, o Chelsea vai acabar levando a Champions League. Não é o melhor time, mas não deve muita coisa pra ninguém. Não tem a plasticidade quase surreal do Barcelona, aquela coisa que dá uma sensação quase que de nostalgia ao ver jogar, mas pra mim tem um dos jogos mais sensacionais do mundo. É um time rápido, forte, extremamente inteligente, mortal e com jogadores monstrinhos. É uma base fortíssima que vem junta há algumas temporadas, e, como eu disse, mais cedo ou mais tarde a hora deles vai chegar. Difícil fazer previsões quanto ao título tão cedo na temporada, mas nada complicado saber que o Chelsea vai passar com glórias para a fase de mata-mata.
Meu segundo lugar fica com o Spartak Moscow. Se não por absoluta convicção, por pura preferência. Sempre gostei muito do Alex, gostaria de vê-lo na próxima fase. E sei que a Maria Luiza concordaria comigo. Ibson, né? ;D
Grupo GAhh, o grupo da morte. O grupo dos 20 títulos europeus. O grupo do pobre do Auxerre. Ahh, grupo G! O que seria da Champions League se você não acontecesse?
Para dizer bem a verdade, eu ainda acho o grupo A mais verdadeiramente mortal do que esse, mas tem de se respeitar essa quantidade toda de vencedores. O jogo entre Real Madrid e Ajax, por exemplo, reuniu nada menos do que 13 títulos em campo. Uma pena que os holandeses já não estejam mais vivendo seus tempos gloriosos há alguns bons anos. O 2x0 desta partida ilustra perfeitamente aquilo que é chamado de “placar mentiroso”. Foi um verdadeiro massacre por parte dos espanhóis, com 15 chutes certos para o gol (33 no total) contra apenas 1 do Ajax (8 no total). Para sermos justos, o Ajax não contou com seu grande artilheiro Luís Suarez, aquele tipo que realmente carrega o time nas costas. Suspenso, o uruguaio de agora fama internacional ficou de fora, e assistiu a um show de Di María, Higuaín (dono dos dois gols da partida, e finalmente destaque no site da UEFA – ufa!), Özil e Cristiano Ronaldo, que bem que tentou, mas não conseguiu deixar o seu. Destaque também para o lateral esquerdo Marcelo, com grande atuação. O Ajax deve ter voltado para casa satisfeito por não ter levado uma goleada histórica, e deve isso muito à belíssima atuação do goleiro Stekelenburg, que foi, na minha opinião, o nome do jogo.
O outro mortífero do grupo G, AC Milan, enfrentou o coitado do Auxerre, na Itália, e finalmente deu ao seu torcedor a oportunidade de ver seu novo ataque dos sonhos funcionando. Se a partida não foi assim um primor, a eficiência de Ibrahimovic por si só resolveu o problema. Dois gols, um deles com uma belíssima assistência de Ronaldinho Gaúcho. O nome Ibradinho já começou a tomar conta das manchetes em Milão. Um pouco Brangelina demais para o meu gosto, mas dá pra compreender. Ao contrário da arqui-rival Inter, o Milan começou muito bem sua caminhada no seu tenebroso grupo.
Palpite: Acredito que 16 títulos da Champions League passarão para a próxima fase saídos direto do grupo G – nove do Real Madrid, sete do Milan. E só para não esquecer: o primeiro confronto entre Real Madrid e Milan acontece no Santiago Bernabéu, no dia 19 de Outubro. Marquem seus calendários!
Grupo HLast but not least, o grupo H encerra nossa análise da primeira rodada trazendo uma belíssima goleada. O Arsenal enfrentou o Sporting Braga em Londres e, contrário ao de muitos palpites que davam conta de um jogo difícil para o sempre jovem time de Arsène Wenger, o Arsenal, mesmo com os costumeiros desfalques, aplicou um sonoro 6x0 sobre os portugueses (do goleiro Felipe, ex-Corinthians, dentre outros 768 velhos conhecidos da torcida brasileira, como Márcio Mossoró, Leandro Salino, Léo Fortunato, Moisés, Lima e Élton (claramente quem apostava em dificuldades para o Arsenal não acompanha o Campeonato Brasilerio. Chega a dar vontade de rir). Partidaça do capitão Cesc Fàbregas, desfile em campo de Andrey Arshavin e o bom retorno de Nasri. O mexicano Carlos Vela e o marroquino Marouane Chamack completaram a goleada.
Costumeiramente o Arsenal tem sorte no sorteio dos grupos, e novamente é o que parece ter acontecido. Do outro lado se enfrentaram Shakhtar Donetski e Partizan Belgrado. Vitória dos ucranianos, que contam com os brasileiros Luiz Adriano, ex-Inter, Douglas Costa, ex-Grêmio, Willian, ex-Corinthians, Alex Teixeira, ex-Vasco, e Fernandinho no elenco. Este último afastado dos gramados por uma fratura na perna.
Palpites: Arsenal, com todas as honras, e, espero eu, para brigar pelo título. Mais do que nunca, depois de ter de ouvir jogadores mal-educados do Barcelona se achando os donos da razão criticando seu trabalho de anos, o vovô Wenger quer conquistar um título importante para mostrar que o seu olho biônico para revelações também pode render prata. Somente uma boa campanha será capaz de segurar Fàbregas em Londres, e com a final acontecendo no Wembley, um triunfo europeu em 2011 seria o supra-sumo das maravilhas (lembrando que nenhum time londrino venceu uma Champions League). Chamack parece ser exatamente aquela última peça que faltava para o time engrenar (muito melhor do que o inconstante dinamarquês Bendtner, que ainda reforça o poderoso departamento médico dos Gunners), e, se conseguir se manter livre de contusões (sempre a dor de cabeça), o Arsenal tem tudo para mostrar que está amadurecido o suficiente para brigar como gente grande. Que o time é sensacional não há dúvida, e que a mente por trás do mesmo é genial, menos ainda. Como meu glorioso Liverpool fez questão de ficar de fora esse ano, deixo aqui minha torcida para os Gunners, não por simpatizar com o clube, mas porque acho o Wenger um génio, e ele não merece ficar ouvindo desaforo que as crianças mimadas do Barcelona disseram a torto e a direito durante o verão. Wenger >>>>>>>>>>>> Barcelona. Admiro muito a estratégia dele, e existem pouquíssimos treinadores no mundo com um olho tão bom quanto o deste senhor para pin-point de jogador, se é que tem alguém. Por isso, go, go Arsenal!
Em segundo lugar, apostarei no Shakhtar. Tá sempre por aí mesmo.
A próxima rodada da fase de grupos da UEFA Champions League começa no dia 29 de Setembro. Destaque para os embates entre Internazionale e Werder Bremen, Valencia e Manchester United, Chelsea e Marseille e Roma e Cluj (q?). Estaremos de olho! ;)